PIROTECNIA

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"A arte de fabricar energia... Armazená-la... E liberá-la em forma de Luzes, Cores e Sons..."

quinta-feira, 10 de março de 2011

CONGADA E A IDENTIDADE BRASILEIRA

IDENTIDADE BRASILEIRA

           A identidade do congado, antes de tudo, é brasileira. A partir da África, são 500 anos de história desde a viagem no Atlântico (calunga), a escravidão, as lutas, os reinados e tudo, até hoje. É brasileira a identidade do congado. Os irmãos do rosário estão vivos e sua identidade é dinâmica, mesmo quando pretendem conservar suas tradições, sabedorias e organização. Vejamos: antigamente não existia a Federação dos Congados. No mundo de hoje, as mudanças são grandes. No congado, mudamos algumas coisas para ver se assim fica melhor. Mas, qualquer adaptação necessária há de ser feita pelos próprios congadeiros a partir da tradição e das raízes, a partir da espiritualidade recebida na irmandade. Falamos de uma identidade dinâmica e brasileira. O congado e a "irmandade do rosário dos Homens Pretos" são fruto de muita criatividade desde o princípio. Esta criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência.
A identidade faz parte do tripé: história, identidade e cultura. As raízes do congado estão na África, principalmente nos povos bantus. Toda identidade tem uma história. Até mesmo a identidade de uma pessoa tem tudo a ver com a história dela desde criança; tudo que ela aprendeu dos pais, da escola, da vida. Uma identidade cultural surge na história de comunidades ou povos. No congado, os antepassados, as almas dos escravos, o fundador da irmandade, reis, rainhas, capitães falecidos são lembrados e reverenciados. A cultura congadeira é fiel aos ancestrais.

                                       

           Na África, os bantus (mais de 500 povos) formam um grupo lingüístico. O termo "bantu" não significa uma cultura. Muito tempo antes dos portugueses chegarem à África, já havia os povos bantus. Atravessaram as densas florestas do centro da África e, isso demorou séculos. Nessa façanha, misturaram-se com outros povos e venceram outros. Forjaram-se reinados, e uma civilização hierarquizada; não uma única cultura e sim muitas. Explicamos a diversidade cultural dos bantus, pela importância dada aos antepassados. Cada grupo étnico bantu tem seus antepassados como ponto de união. É deles que apreenderam a sabedoria dos provérbios; dos antigos receberam as leis para fazer justiça no caso de uma briga de terras ou entre famílias; é deles que aprenderam a religião, a cura das doenças e os instrumentos musicais e todas as outras coisas da vida. Assim, cada grupo, cada clã, cada povo de bantu tem sua cultura própria. Portanto, existe a civilização bantu na África, o grupo lingüístico bantu e muitas culturas bantu.  


Máscara de Madeira Bantu - Guerreiro Bantu
                          Família Bantu  no Brasil - 1928






O CRISTIANISMO AFRO NO CONGO
 Desde que os portugueses chegaram ao Golfo da Guiné, o cristianismo entrou lá e pegou. Em 1533, foi criada a diocese de Cabo Verde e Guiné. Outra diocese fundada no reino do Congo já celebrou os seus 400 anos de existência! Muitos escravos bantos do Brasil já eram cristãos na África.
No Golfo da Guiné, a recepção do cristianismo não foi passiva. No reino do Congo, surgiram algumas manifestações afro-católicas. A jovem Beatrice Kimpa Vita liderava um movimento de Sto. Antônio, que africanizava o cristianismo. Ela encarnava Santo Antônio e disse que Jesus e muitos santos nasceram no Congo. Beatrice foi condenada pela inquisição e morreu na fogueira, em 1706.[1] Curiosamente, no Brasil, encontramos Luiza Pinta, escrava de Angola e devota de Santo Antônio em Sabará (MG), que foi torturada pela inquisição, em Lisboa no ano de 1742. Quem sabe, a Luiza tenha pertencido ao movimento da Beatriz?  




A Irmandade do Rosário recebendo donativos – Jean Baptiste Debret.

 Como Nossa Senhora do Rosário entrou na devoção dos negros, em Portugal, na África e no Brasil? Uma lenda contada em todas as irmandades coloca a Senhora do Rosário como sendo a origem do congado. Vamos ver isso com calma.
A irmandade do rosário (dos brancos) fundada na Alemanha em 1409, chegou a Lisboa em 1478.  A mais antiga menção a uma “Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos” encontramos em 14 de julho de 1496, portanto quatro anos antes da chegada dos portugueses ao Brasil. Esta informação consta num alvará dado à dita confraria, sita no mosteiro de S.Domingos de Lisboa, "para poderem dar círios e recolher as esmolas nas caravelas que vão à Mina e aos rios da Guiné". Encontramos o importante documento no Arquivo Nacional da Torre do Tombo em Lisboa: Confirmações Gerais, L.2 fls.107v.-108.
Em 1526, já havia na ilha de São Tomé a irmandade dos "Homens Pretos".[2] Outras irmandades do Rosário existem no Congo, na Angola e em Moçambique, desde o séc.XVII.
Antes de 1552, já existia no Brasil uma irmandade para os escravos da Guiné, segundo Frei Odulfo van der Vat.ofm e outros historiadores.
Em 1610, o rei do Congo entrou na irmandade do rosário fundada por Fr.Lourenço O.P., em Mbanza, capital do Reino do Congo.
Entendemos que as irmandades do rosário surgidas no Brasil, não vieram só da Europa, mas também da África. Provavelmente, houve escravos africanos que já vieram para cá irmãos do rosário.

O APARECIMENTO DE NOSSA SENHORA INTERPRETADO

 A criativa história do aparecimento de Nossa Senhora do Rosário, fundadora das irmandades dos homens pretos, é antiga e pertence ao cristianismo banto. Muitos dizem que Nossa Senhora apareceu no Brasil, poucos dizem que foi na África. Os congadeiros contam que os brancos, donos de escravos, não conseguiram tirar ela do lugar; o candomblé (ou o Moçambique) pelejou e conseguiu. Ela ficou com os negros e aceitou-os como eram: pobres, escravos sofridos, com seus reinados e tambores. Os brancos foram passados para trás, nessa história. O candomblé repete este tema. Todos colocam a experiência religiosa deste aparecimento à origem do congado. A interpretação desta história há de ser feita a partir dos bantus da África ou dos escravos bantos do Brasil.
Os bantos praticam uma imensa fidelidade aos antepassados. É certo tentar descobrir os elementos afro da devoção de N.S.do Rosário. Mas, que seja um elemento bantu! A experiência religiosa dos congadeiros deve ser levada a sério! Volto a afirmar: é difícil entender a espiritualidade vivida pelos congadeiros e perceber como o rosário de Maria os sustenta nas dificuldades na vida? Para mim, isso é sempre um grande mistério, uma coisa que respeito muito.


 

AS CORES, OS SONS, A FÉ... Seja ela qual for!!!








TRADIÇÃO NA "MODERNIDADE" - CONGADA E AS IRMANDADES DO ROSÁRIO

As Irmandades com seus Estandartes








No feitio á mão. Delicadeza do artesanato da fé. E na tradição, nas costas, vai  Ela com guia de caminho...


O BLOG  dá os nossos PARABÉNS   a ARTESÃ ou ao ARTESÃO. Muito lindo. Belíssimo trabalho.
Se alguém souber quem fez. Por favor nos envie o nome.